Conclusão científica: Exercício não emagrece

Traduzimos este curto post que fala de algo que está engruvinhado lá dentro da cabeça de muita gente: exercício físico emagrece.

Eu também pensava assim. Achava que minha esposa não emagrecia porque não conseguia fazer exercícios físicos (mal sabia eu que na verdade era o oposto: não conseguia fazer exercício porque estava quase obesa).

Até que um dia um profissional do Esporte falou sobre low carb e o papel da insulina. Falou também que o papel do exercício no emagrecimento era irrelevante.

Deu um nó na minha cabeça! Afinal, como jogar fora mais de 30 anos de senso comum? Repetido à exaustão por todos os “especialistas” da área de Saúde.

Finalmente me libertei desta amarra e hoje sei que exercício físico é excelente pra saúde em geral, mas pra perder peso o que conta mesmo é o que você come (ou, também, o que você deixa de comer).

Leia o artigo e me conte sua opinião nos comentários ao final deste post, por favor.

traduzido do VOX.com (clique aqui para ver texto original em inglês)

(Atualizado por Julia Belluz e Christophe Haubursin em 29/06/16)

Sempre fomos levados a crer que exercícios são o fator principal para o sucesso de qualquer esforço que venhamos a fazer para perder peso.

Você conhece o dito popular: comece a se exercitar no primeiro dia do ano se você quiser atingir seu objetivo de perda de peso nesse ano.

Mas, na verdade, as evidências que se acumulam há anos nos dão conta que, embora sendo muito importantes para a saúde, exercícios não propiciam perdas de peso significativas.

Para entender o porquê disto, eu li mais de 60 estudos (incluindo publicações sistemáticas e de alta qualidade entre as melhores disponíveis para pesquisa) sobre exercícios e perda de peso para uma recente edição de “Show me the Evidence”.

A seguir, vejam um resumo do que li.

Exercícios respondem por uma pequena parte das queimas de calorias diárias

De acordo com o pesquisador de obesidade Alexxai Kravitz, o gasto energético é consequência da ação de três componentes principais:
1) a taxa metabólica basal, ou a energia utilizada para o funcionamento básico quando o corpo está em repouso.
2) a energia usada para processar os alimentos.
3) a energia utilizada na atividade física.

É importante saber que nós temos muito pouco controle sobre a nossa taxa metabólica basal que, entretanto, é a que consome a maior parte da nossa energia.

Ainda segundo Kravitz, para a maioria das pessoas, essa parcela gira em torno de 60 a 80% do total consumido.
A digestão de alimentos representa cerca de 10%.

Isso deixa apenas 10 a 30% para a atividade física, dos quais o exercício é apenas um subconjunto. É sempre oportuno lembrar que atividade física inclui todo tipo movimento.

Assim, fica claro que querer apagar as marcas de todas suas transgressões alimentares com exercícios é algo que passa longe do que prometem as propagandas de muitas academias.

É difícil conseguir uma perda calórica significativa através da prática de exercícios

Utilizando Planejadores de Peso Corporal de Institutos Nacionais de Saúde que dão uma estimativa mais realista do que a antiga “regra das 3500 calorias”, o matemático e pesquisador sobre obesidade Kevin Hall criou este modelo para mostrar porque adotar um programa de exercícios regulares não garante perda de peso significativa.

Se uma pessoa de 100 quilos de peso correr por 60 minutos, em um ritmo de média intensidade, 4 vezes por semana, durante 30 dias, mantendo o seu consumo de calorias usual durante esse período, perderá algo em torno de 2,5 quilos de seu peso.

Entretanto, se essa pessoa decidir aumentar seu consumo de calorias ou descansar mais para se recompor do exercício efetuado, a perda de peso será menor ainda, disse Hall (ver mais sobre estes “mecanismos compensatórios” adiante).

Então, uma pessoa obesa ou com sobrepeso, teria que dispender muito esforço e tempo e ter uma enorme força de vontade para perder mais peso apenas fazendo exercícios.

O exercício pode anular o resultado obtido na perda de peso conseguido por outras formas

Quão estreita é a relação entre a vontade de comer e o quanto nos movimentamos?

Frequentemente, quanto mais nos exercitamos mais fome sentimos. E, contrariamente, se não nos movimentamos muito, sentimos menos fome.

Um estudo de 2009 mostrou que as pessoas acabam aumentando a quantidade de alimentos que ingerem após uma seção de exercícios. Ou porque elas acham que queimaram muitas calorias ou porque, simplesmente, sentem mais fome.

Uma análise de outros estudos desde 2012 confirma que muitas pessoas superestimam a quantidade de calorias foram queimadas em seções de exercícios e acabam comendo mais logo após o fim dessas seções.
Dispende-se um grande esforço durante uma hora e todo esse esforço acaba sendo anulado por 5 minutos de ingestão de alimentos em seguida.

Um simples pedaço de pizza, ou um café “mocha” ou um sorvete têm essa capacidade.

Há evidências, também, de que algumas pessoas diminuem o ritmo depois de uma sessão de exercícios intensa. Dessa forma acabam consumindo menos energia nas suas atividades pós sessão de exercícios.

Essas mudanças são chamadas de “comportamentos compensatórios e acontecem, muitas vezes inconscientemente.

Precisamos reformular nossos conceitos sobre exercícios

Essas mudanças são chamadas de “comportamentos compensatórios” e acontecem, muitas vezes inconscientemente.
O médico Yoni Freedhoff, especialista em obesidade, recomendou que façamos uma revisão dos nossos conceitos sobre exercícios.

Os exercícios propiciam surpreendentes benefícios, mas não tem a capacidade de ajudar muito na perda de peso.

Ao prevenirem canceres, melhorarem a pressão arterial, os níveis de colesterol e a qualidade do nosso sono, os exercícios tem demonstrado ser a melhor droga do mundo. Melhor que qualquer produto da indústria farmacêutica que um médico possa receitar.

Infelizmente, porém, o exercício não é uma droga para perda de peso.

E enquanto continuarmos a praticá-lo com o intuito principal(e infelizmente, às vezes, exclusivo) de prevenir ou tratar a obesidade adulta ou infantil, estaremos disseminando conceitos distorcidos sobre os benefícios de saúde genuinamente incríveis associados a essa prática e promovendo, simultaneamente, a desinformação sobre suas reais possibilidades relacionadas à perda de peso.

Reforço o que é uma clara evidência: o exercício é excelente para a saúde. Mas não espere perder muito peso somente aumentando a atividade física.

Como sociedade, também precisamos parar de tratar a falta de exercício e dieta como as responsáveis pelo problema da obesidade.

As políticas de saúde pública para obesidade devem priorizar o esclarecimento da população sobre os riscos do consumo excessivo de alimentos de baixa qualidade.

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