Doutor Souto sobre o artigo “Verdades e mentiras sobre o emagrecimento”

Você também fica perdido quando o assunto é dieta, alimentação e saúde? Todo dia sai algo diferente, contradizendo o que havia sido dito antes, né? O que fazer?

Infelizmente a prioridade não é esclarecer. A maioria dos jornalistas está preocupada em entreter, ou seja, quanto mais chamar a atenção melhor.

Por isso, tomei uma decisão: parar de ler assuntos sérios nos meios de comunicação de massa. Além dos meus livros, escolhi alguns blogs e colunas de gente que acredito ser séria e confiável, que leio para embasar minhas opiniões. O resto virou diversão, simplesmente não levo a sério (e muitas vezes nem perco tempo com eles).

Resolvi escrever isso porque me lembrei de um artigo em um blog de um jornal de grande circulação que reproduziu a opinião de um autor sobre “verdades e mentiras sobre o emagrecimento”. Aquilo de sempre: comer várias vezes ao dia, perda de massa muscular se não comermos carboidratos, entre outras ideias questionáveis. Veja a íntegra da entrevista aqui.

Entra o Doutor Souto na parada…

Entrei em contato com a autora do blog, dizendo que havia visões alternativas, defendidas por médicos sérios, que mereciam espaço. Meu contato com ela se perdeu depois que enviei um texto que o Doutor Souto montou rebatendo os principais argumentos do autor. Ela nunca mais me respondeu.

A resposta do Doutor Souto ficou muito boa (pra variar…) e eu não poderia deixar de publicá-la por aqui (com a autorização dele, claro). Leiam abaixo:

“Danilo,

O papel aceita qualquer coisa. Ciência não deve ser apenas uma questão de opinião. Alguns tópicos contradizem frontalmente os conceitos científicos mais atuais. Vejamos.

É importante fazer lanches que contenham carboidratos? Se você quer perder peso, a resposta é não. Há várias metanálises publicadas nesse sentido. O cérebro precisa, sim, de glicose. Mas há muitas décadas é sabido que essa glicose não precisa vir da dieta. Qualquer um pode verificar essa assertiva bastando escrutinar a lista dos nutrientes essenciais ao ser humano – a glicose não é um deles.

A afirmação de que a restrição de glicose na dieta leva à perda de tecido muscular é simplesmente errada – os aminoácidos que serão transformados em glicose vêm da dieta (desde que haja proteína suficiente nessa dieta), não dos músculos. Muitos estudos desmentem esse mito, e o estudo mais recente foi publicado ainda no início do mês de setembro, na revista Annals of Internal Medicine, e recebeu ampla divulgação pela mídia.

O estudo mostrou, entre outras coisas, que a restrição de carboidratos levou a perda SELETIVA de gordura, enquanto a restrição de gordura na dieta levou à perda de músculo.

Devemos comer em intervalos regulares? A resposta é não. Não apenas a ideia de que seja necessário comer cada 3 horas tem origem especulativa e anedótica, mas de fato os estudos prospectivos e randomizados simplesmente contradizem essa ideia. Estudo recente, que também recebeu ampla divulgação na mídia, indicou, por exemplo, que diabéticos que comiam apenas duas refeições grandes ao invés de 7 pequenas tiveram não apenas redução de peso, mas melhora do controle glicêmico. Não há nenhum estudo indicando que intervalos longos sem alimentação reduzam o metabolismo. Há, pelo contrário, estudos mostrando o contrário em jejuns totais de até 72 horas.

A dieta hiperproteica é a solução? Bom, a quase totalidade dos estudos de dietas de baixo carboidrato (que, me parece, era o que o autor pretendia criticar) são normoproteicas e mais ricas em gordura. Então, o autor diz que as gorduras saturadas da dieta seriam problemáticas porque seriam incorporadas às membranas das células.Veja bem, o autor (que é vegetariano), critica as gorduras animais por serem saturadas. Esquece ele que o ser humano é um animal. E que, por conseguinte, as gorduras das células humanas são saturadas, como deveria ser óbvio! Ou se imagina que o ser humano é composto por gordura vegetal?

A bem da verdade, afora uma pequena quantidade de gorduras poliinsaturadas, cerca de metade da nossa gordura é saturada, e metade monoinsaturada – exatamente como a carne dos animais que comemos. A ideia de que isso atrapalha a ação da insulina não é real. Há incontáveis estudos indicando que a melhor estratégia para REVERTER a resistência à insulina e o diabetes tipo 2 é justamente uma dieta de baixo carboidrato (portanto, com mais gordura). Mais uma vez, estas afirmações estão baseadas em estudos prospectivos e randomizados.

Porque o papel aceita qualquer coisa, mas a ciência não é um buffet no qual cada um se serve de acordo com suas preferências, e sim um corpo de evidências no qual a opinião é o nível mais baixo, e o ensaio clínico randomizado, seu ponto mais alto. O que os ensaios clínicos mostram, inequivocamente, contradiz as opiniões emitidas pelo autor do referido livro.

Grande abraço, Souto”

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