Sucralose – Novo aliado ou mais do mesmo?

A sucralose é um adoçante artificial de muito baixa caloria que foi descoberto em 1976 em um laboratório que hoje faz parte do King’s College em Londres. É derivado do açúcar a partir da adição de átomos de cloro, sendo, portanto, um composto organoclorado (assim como alguns inseticidas). É vendido na forma de pó em saquinhos, combinado com maltodextrina ou lactose (ambos são carboidratos – portanto, ao consumir sucralose de saquinho, junto você ganha de brinde uma pequena quantidade de carbs). Já na forma líquida, é dissolvido em água.

Pelo poder adoçante (cerca de 600x o da sacarose – açúcar de mesa), estabilidade a altas temperaturas e ausência de amargor, a sucralose tem sido amplamente utilizada na indústria alimentícia em chás, bolos, frutas enlatadas, entre outros (confira você mesmo olhando o rótulo de produtos diet). Estima-se que responda por cerca de 30% dos adoçantes consumidos no mundo (estimativa de 2011).

Uma breve palavra sobre adoçantes

Antes de compararmos a sucralose com outras opções disponíveis, devemos nos perguntar: adoçantes artificiais são comida de verdade? Definitivamente não. São resultados de processos químicos e, como muitos temas em nutrição humana, carecem de estudos conclusivos e de longo prazo. Portanto, não deveríamos encorajar o uso de nada que os contenha. Mas sabemos que, para algumas (ou muitas!) pessoas, a utilização de adoçantes artificiais pode ser uma alternativa para manter o sabor doce dos alimentos em sua dieta sem consumir sacarose (açúcar refinado) ou mel. Esta estratégia pode ser de grande ajuda durante a adaptação de sua dieta ao estilo Páleo-LCHF.

Qual a saída se você quiser eliminar (ou reduzir significativamente) adoçantes do seu cardápio? Uma possível solução é tentar ir reduzindo aos poucos, concentrando seu uso apenas nos alimentos que considerar  “não palatáveis” sem o sabor mais adocicado. É incrível como, com o passar do tempo, a sua necessidade de adoçar os alimentos diminui e você passa a identificar o dulçor natural dos alimentos (e apreciar outras sensações como amargor, acidez, etc.). É como um ex-fumante, que vai recuperando as funções sensoriais de suas papilas gustativas. De qualquer forma, para aqueles que não buscam perda de peso significativa, mel e frutas podem ser uma alternativa OCASIONAL em um momento de “presente” a si mesmo – como receitas de bolos e afins.

Sobre a Sucralose

Ainda não existe nada conclusivo e consensual, mas alguns estudos indicam que o consumo de sucralose ao longo do tempo, MESMO DENTRO DA QUANTIDADE DIÁRIA RECOMENDADA NOS EUA E NA EUROPA, pode ter alguns efeitos nocivos, conforme descrito abaixo (veja o artigo completo aquié importante deixar claro que tais estudos foram realizados em ratos e in vitro, portanto carecem de confirmação em humanos):

– Redução da microbiota benéfica no trato gastrointestinal. A saúde do intestino e da microbiota (micro-organismos que vivem no trato digestivo) é muito importante. O uso de qualquer coisa que altere negativamente seu equilíbrio e seja dispensável deve ser evitado (maiores detalhes sobre o estudo – sempre bom ressaltar, realizado em ratos e portanto carecendo de confirmação em humanos – aqui neste link);

– Alteração da regulação de produção de insulina e glucagon. Consumir sucralose pode causar aumento da concentração de insulina e glicose no sangue e, portanto, afetar o mecanismo de controle de peso (este efeito foi verificado in vitro, porém sem sucesso na sua reprodução in vivo);

– Existem indícios de que, ao contrário do que se acreditava inicialmente,parte da sucralose consumida por via oral é metabolizada pelo organismo humano. Os efeitos disso e quais são os metabólitos resultantes ainda são desconhecidos;

Em altas temperaturas (compatíveis com as de um forno doméstico quando fazemos um bolo) e quando na presença de glicerol , a sucralose pode gerar substâncias tóxicas (cloropropanóis), ao contrário do que se divulga normalmente [1]. Triglicerídeos, comum em várias gorduras, contém glicerol;

Impacto na sensação de saciedade, apesar de ser vazio em termos nutricionais;
Por outro lado, existem estudos que consideram seu consumo seguro à saúde – dentro das recomendações diárias no EUA (5 mg/kg/dia) e Europa (15 mg/kg/dia) – apesar do pouco tempo de existência deste adoçante artificial (principalmente quando comparado com a sacarina e aspartame).

Herói ou vilão?

No final, como muita coisa no mundo da nutrição, o uso ou não da sucralose como adoçante é uma decisão individual. É importante entender quais os impactos em cada organismo (há casos, por exemplo, onde seu uso pode causar irritações no estômago ou intestino) e ter em mente que existem opiniões a favor e contra sua utilização. Além disso, é sempre bom lembrar que muitas opiniões e estudos científicos são cercados de conflitos de interesses, tanto entre os defensores como entre os que demonizam o uso de novas substâncias.

Quer mais informações? Veja a leitura recomendada abaixo:
– Blog do Dr. Souto

[1] Rahn A., Yaylayan V. A. Thermal degradation of sucralose and its potential in generating chloropropanols in the presence of glycerol. Food Chem. 2010;118:56–61

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